Se penso, sinto. Se sinto, logo escrevo...

domingo, 25 de julho de 2010

Vergonha

Por Salvador Dali


De vaidade violada
De alma machucada, recolho.
Recolho-me na ausência
Recolho-me na transcendência
de não mais ser
Sendo.

De alma trêmula
coração inquieta-se.
Inquieta-se na dor
de mais puro ardor
Vaidade.

Vergonha que me cobre à alma
Vergonha que inunda o ser
Vergonha que destrói o brio
E que me faz desaparecer.
Presente.
.
.
Raquel Faria.

sábado, 17 de julho de 2010

Catarse

O Grito de Edvard Munch

Numa explosão eu me refiz.
Num grito eu me revelei.
Na lágrima contida me desfacelei.
Agora, depois de tudo.
Posso voltar...





Raquel Faria.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Realidade Inventada

Operários, por Tarcila do Amaral


Eu sou tudo
Eu sou todos.
Sou médica
Engenheira
Poetiza
Socialite.

Já fui bailarina
Pianista
Arquiteta
Dentista
Operária.

No meu mundo faz de conta
Eu posso ser quem eu quiser.
Invento conversas
Momentos
Problemas
Pessoas.

Assim sublimo a verdade engessada
Pois na minha realidade inventada
Eu posso ser todo o mundo
E sou...



Raquel Faria.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Aniversário

23 anos
276 meses
8.216 dias
E muitas horas, milhares delas por sinal...

Renovação!
Renovam-se os dias
Renova-se o ciclo.
Trocam-se as esperanças.

Foi pela manhã na sensação de querer esconder dentro do armário
Que me abri para o novo.
De novo!
Afinal hoje é meu aniversário.




Raquel Faria.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Fotografias

Parei o momento
Registrei o fragmento
Congelei no pensamento.
Retornei ao irretornável
Revivi.

Lembrei
Relembrei
Inventei.
No registro da história voltei no tempo.

Percebi detalhes
Relembrei olhares
Sorri
Chorei
Nostalgiei.

Numa caixa,
Num papel
A vida se reafirma.

No registro da imagem a vida faz passagem
Doces fotografias...





Raquel Faria.

Voltar para casa

Caminho de Casa, por Eleny Silver

Ah ! Como é bom voltar pra casa
Onde a alma faz morada,
O conhecido é confortante
E as incertezas são certas.

Ah! Como é doce voltar pra casa
Onde o coração repousa na doce ilusão
De voltar para o familiar...


Raquel Faria.

Clarice e sua Boneca

Pobre Clarice
Não sabe amar.
Faz juras a sua boneca quando faceira está a brincar.
Mas logo depois a ignora trocando-a por outra atividade qualquer quando
a brincadeira a cansa.

Pobre Boneca
Que na sua estabilidade objetal acredita.
Acredita nas promessas.
Acredita na preferência dentre os brinquedos
Acredita quando sorrateiramente Clarice num relâmpago confessa:
“Vou ficar com você pra sempre”

Pobre boneca,
Pobre Clarice.
Dentre as indas e vindas da brincadeira eu não sei quem perde,
Se é Clarice por ir e vir
ou se é a pobre boneca,
por esperar...




Raquel Faria.
"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"
Clarice Lispector

Quem tem...

Quem tem esperança possui o mundo nas mãos.
Possui o mundo porque nada está perdido e tudo é passível de acontecer...
Quem tem alegria tem a vida.
Pois aproveita nos pequenos momentos as melhores oportunidades...
Quem tem problemas evolui...
Evolui porque aprende nas dificuldades que tudo é passageiro...
Quem possui lembranças eterniza sentimentos.
Pois rememora nas recordações pessoas, coisas e gestos...
Quem tem dúvida possui a ambivalência fundamental.
Ambivalência do sim e do não, do ser ou não ser, ambivalência da essência...
Quem tem um amor está no olho do furação.
Pois nele tudo se encontra, alegria, tristeza, medo, coragem, ódio, amor...
Quem não tem amor está em falta...
Pois não ama , não chora, não ri , não entristece...
Enfim, perde sua humanidade.
Agora só me cabe uma reflexão:
Ainda não sei se é melhor perder a humanidade
ou estar no olho do furação...




Raquel Faria.

Ainda Trago a Marca



Ainda trago a marca no dedo...
Trago a marca dos passeios, do açaí com granola e banana,
Da pipoca com filme, do macarrão com salsicha e milho verde,
Dos passeios e telefonemas ao final do dia.

Trago a marca da ausência, da mudança
e da lembrança ainda presente.

Marcas são algo tachado, cravado.
É como se fosse um aviso constante de que algum dia algo aconteceu por ali.

Marcas trazem nostalgia, trazem alívio.
Marcas da vida, como as doces lembranças que rememoram o leve descompromisso de andar de biblicleta numa quarta feira a tarde.
Das gargalhadas com amigos
Dos apuros passados na adolescência
Dos olhares, das palavras, do toque...

Não somente acontecimentos deixam marcas
Pessoas e objetos também.
Músicas, perfumes, manias, expressões.
Traços de pessoas que entram e saem
Que nos ensinam e que também aprendem
Pessoas que compartilham e que depois ausentam-se.

É por elas, as mais variadas lembranças, que reafirmo:
ainda trago a marca no dedo...






Raquel Faria.

E se eu...

Dancer (Danseuse), por Edgar Degas.
E se eu gritasse, será que me ouviria?
E se eu demonstrasse
E se eu chorasse?

E se eu concordasse mais
Cedesse mais
Falasse mais
Me entregasse mais?

E se eu fosse menos ausente
Mais latente
E menos indiferente?

E seu tivesse mais coragem
Mais vontade?

Será que você descobriria o tanto que na minha atitude contida
eu gosto de você...





Raquel Faria.

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”

Rubem Alves

A salvação que foi trabalhar no Feriado

O que você acha de trabalhar no feriado? Trabalhar em um daqueles dias frios em que grande parte da população está descansando,viajando e principalmente, dormindo!
O que você acha?
Caro leitor, foi num desses dias atípicos de trabalho no feriado que eu encontrei a minha salvação! Porque que eu encontrei a minha salvação? Oras, nada como distrair a cabeça em convulsão com uma atividade que lhe permita fervilhar ideias que não as nossas.
Freud sabiamente já dizia que, uma das vias para se direcionar as angústias e sofrimentos seria o trabalho, as artes e a ciência. É pintando, fazendo música, escrevendo e envolvendo-se em projetos intelectuais ou não, meus caros amigos, é que o ser humano transfere suas angústias. E como não podia ser diferente, foi trabalhando no feriado que pude me desvencilhar de mim mesma.
Não sabia que papéis, burocracias e planilhas de excel podiam distrair tanto uma mente cansada e em expansão. Ah... como levantar cedo no frio de inverno e sair pela rua quase deserta rumo ao trabalho me salvou!
Agora vou aguardar pela chegada da segunda-feira, para que eu possa continuar minha terapia produtiva rumo à salvação...

Raquel Faria.

Nas Asas de Ícaro

A queda de Ícaro, por JFMachado.

Eu quero voar...
Mas não posso.
Não que eu não possa voar pelo resto dos dias,
Mas minhas asas, pobres coitadas, não suportam.

Eu quero voar pra perto do sol
Sentir no rosto o vento, a luz.
Mas preciso esperar, minhas asas ainda não estão prontas.

Enquanto isso eu pego carona nas asas de Ícaro
Voo com ele para a imensidão dos sonhos
Até atingir um ponto em que a realidade me chama.

E assim quase como que instantâneamente
Rumo em queda livre direto ao mar.
Porque assim como eu, Ícaro não podia voar muito alto
Pobre coitado, suas asas eram de cera!





Raquel Faria.

Escrever Por quê?

Há quem diga que quem canta seus males espanta. E quem escreve, seus males eternecem? Ou adormecem?

Alguém já parou pra pensar sobre o que impulsionaria o hábito de escrever? Seria por amor, pela dor, pelo rancor ou pela falta do que fazer?
O que motivou Celília Meireces a escrever, Shakespeare, Rubem Alves, Clarice Lispector, Luis Fernando Veríssimo, Pablo Neruda? E o que nos motiva?

Pois bem , a beleza da escrita é não ter motivos. Escreve-se por tudo e por nada. Escrever é conversar com a própria alma. É fazer valer no papel o que está escrito no coração!

É confessar em silêncio a palavra tolhida, é anunciar para eternidade o pensar momentâneo.

Escrevemos para sublimar a dor, para descarregar o rancor, para esbravejar o amor. Escrevemos por luto, seja pela perda do outro ou pela perda de nós mesmos. Escrever, mais do que se perder, é reencontrar.

Enfim, escrever é acalentar nosso coração quando o que mais queremos é gritar para o mundo o silêncio de nossas palavras...






Raquel Faria.