Se penso, sinto. Se sinto, logo escrevo...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Versos

Versos que tocam
Versos que calam
Versos que falam.

Versos de inspiração
Versos de comoção
Versos...

Para alguns podem até não dizer muito,
Mas para mim contam a vida.


Raquel Faria.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Aparências

Por Amedeo Modigliani, Victoria


O sorriso constante
no olhar brilhante
jamais conseguiu
revelar a ausência imedida
daquele pobre coração.

A gentileza aveludada
E a compreensão acalmada
Jamais conseguiram revelar
o caráter desconcertante
de tão compacto ser.

O temperamento fúnebre
O ar depressivo
O pudor recriminante
O sofrimento constante
Não revelaram.

Na ausência perceptiva,
No coração abafado,
Ninguém compreendeu.
Ninguém percebeu o que se fazia claro
Sem no entanto o ser

Enfim, Aparências...


Raquel Faria.



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

É sempre bom andar com caneta e papel,
nunca se sabe quando um verso vai acontecer...

Raquel Faria

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Despedida.

Desconhecido.

Dias insuportáveis
de ausência
de abstinência
de sua presença.

Quem vai ganha o mundo,
Quem fica perde-se nele.

Despedir-se é a mais dolorosa e difícil tarefa
E uma dor tão profunda como se déssemos
adeus a própria vida...





Raquel Faria.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Descobertas.

Descobri que verdades também podem contar mentiras
Que palavras podem desconstruir.
E que a mais verdadeira certeza também pode se enganar.


Descobri que o amor também pode ser egoísta
e que o 'para sempre' é só uma questão de momento.
...
Decepcionei-me



Raquel Faria.

domingo, 7 de novembro de 2010

Inconstância

Por Edward Hopper, Chop Suway


Intempestivamente
O sorriso muda

Bipolarmente
as idéias contraem-se

Repentinamente
Muda-se o humor
Troca-se o amor
Instaura-se o ardor.

De constantes inconstâncias
Alternam-se
Menina lua.




Raquel Faria.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Na pena que traceja
Na tinta que baila sobre o papel
Sentimentos surgem
E ideias fervilham.

No sofrimento
Na confissão do tracejo
No verso

O poeta surge.

Surge na beleza do registro
No contorno que dá forma.
Na exclamação do amante
Na interrogação do errante

Surge...
Nas reticências da vida...



Raquel Faria.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém.
Provavelmente a minha própria vida."
(Clarice Lispector)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Inevitável

Por Renoir, Mulan Galette


Adoro seu desajeito
E o jeito infantil com que insaciavelmente brinca.
Adoro sua ingenuidade de achar que tudo sabe
Quando na verdade nada se sabe.

Seu senso de humor irritante,
Seu olhar latejante
Sua percepção desacertada.

Sua Lealdade
Sua cumplicidade
Sua ausência

Adoro seu descompasso
E suas piadas repetidas
Suas frases imedidas
Seu pudor despudorante.

Seu egoísmo gigante
Sua ignorância exorbitante
E a forma com que sentimentalmente me manipula
Me fazem perceber o quando que é insuportavelmente inevitável
Me desvencilhar de você.



Raquel Faria.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vila Rica

Ouro Preto por Fernando Costa


Sou barroca por essência
E por isso volto para casa d’alma.
Sinto saudades de momentos que não passei.
Mas estou lá, na Vila Rica de outrora.
Faço parte em corpo, alma e mente.

Sinto o aconchego dos que voltam pra casa
Relembro lugares (não conhecidos)
Mas que já vivi em meus devaneios.
Arrepio!

Na pedra sabão, na ladeira, no telhado
No vestígio da inconfidência
Eu me reencontro.

No adro
No cheiro da igreja.
No chafariz.
No olhar suplicante da escultura barroca.
Eu me conforto.

Em Marília, em Dirceu.
Em Manoel da costa Ataíde,
Aleijadinho.

No profano das repúblicas
No sagrado das igrejas
Na fé.
Eu me reencontro.
Pois volto à essência de minha alma
Minha querida Ouro Preto.






Raquel Faria.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Desapego.

The River Benecourt, por Cloude Monet


Em pleno exercício do desapego
luto.
E no desvencilhar
me encontro.
Menos lembranças...
Mais desejos...

Raquel Faria.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Eu sou Barroca.

Melancholy, por Edgar Degas,


Sou de natureza imensuravelmente inapreensível.
Me faço luz e sombra
Lume e obumbração.

Regozijo diante da assimetria
Pois por essência minha alma
Divaga na mutalidade das formas.

Sou emoção, não razão
Pois trago na atitude
O contorcer das idéias
O movimento exagerado
E o apresso pelas formas fugidias.

No meu pessimismo existencial
Divago entre o sacro e o profano
Entre o venerável e o mundano.
Rebusco.

No meu desprezo pela orientação provida
Me curvo
Contra-curvo
Retorço.

Sou intensa
Pessimista
Rebuscada
Erudita
Contraditória.

De percepção sensorial exagerada
Me deleito
Afinal, eu sou Barroca.


Raquel Faria.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dúvida

Vegetable Fields, por Auguste Macke


De repente o impossível se fez
E no fervilhar das idéias
Surgiu uma chama.
Na linha tênue entre prazer e sofrimento
Instaurou-se a dúvida
E na dúvida surgiu-se o drama.

Do sonho fez-se a realidade
E da realidade fez-se a opção
Opção do sim
Opção do não

E no meu drama conflitante
Comprimo
Comprimo a difícil decisão
De optar entre a vontade de ter
E a necessidade de ser

Entre o desejo do sim
E o medo do não.
Enfim, dúvida.

Raquel Faria.

domingo, 15 de agosto de 2010

Confesso, Poesia

Leitura, por Renoir


Confesso que nas palavras
E nos trocadilhos desconexos
Me revelo.
E no singelo jogo de palavras
Me desescondo.

Confesso que nas entrelinhas
Compartilho.
E de verso em verso
letra em letra
a verdade irrevelada
se revela.

Confesso que o pensamento pujante toma forma
E na poesia de indiretas
meu brio que era breu
edifica-se.

E um grito sai
No silêncio
No rearranjo das palavras veladas.
Poesia!



Raquel Faria.

sábado, 7 de agosto de 2010

Se fosse fácil

Alone, por Henry Toulouse Lautrec


Se eu não gostasse seria muito mais fácil
Se eu não me importasse seria muito mais fácil
Se eu não tivesse medo seria muito mais fácil
Se eu não me apreendesse seria muito mais fácil.

Muito mais fácil seria se eu não me envolvesse
Se não quisesse
Se não desejasse
Se não renunciasse
Se não sofresse.

Muito mais fácil e MONÓTONO seria
Se eu não vivesse em suas várias faces
O significado do amor.




Raquel Faria.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Trilha

Sapatos, por Van Gogh


Nas marcas da vida
deixo para trás
quem eu fui em outrora.

Na trilha que fica
Registro-me.

Nos passos descompassados sigo.
Sigo...
No caminho do destino faço a trilha
Rumo a lugar nenhum...




Raquel Faria.

domingo, 25 de julho de 2010

Vergonha

Por Salvador Dali


De vaidade violada
De alma machucada, recolho.
Recolho-me na ausência
Recolho-me na transcendência
de não mais ser
Sendo.

De alma trêmula
coração inquieta-se.
Inquieta-se na dor
de mais puro ardor
Vaidade.

Vergonha que me cobre à alma
Vergonha que inunda o ser
Vergonha que destrói o brio
E que me faz desaparecer.
Presente.
.
.
Raquel Faria.

sábado, 17 de julho de 2010

Catarse

O Grito de Edvard Munch

Numa explosão eu me refiz.
Num grito eu me revelei.
Na lágrima contida me desfacelei.
Agora, depois de tudo.
Posso voltar...





Raquel Faria.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Realidade Inventada

Operários, por Tarcila do Amaral


Eu sou tudo
Eu sou todos.
Sou médica
Engenheira
Poetiza
Socialite.

Já fui bailarina
Pianista
Arquiteta
Dentista
Operária.

No meu mundo faz de conta
Eu posso ser quem eu quiser.
Invento conversas
Momentos
Problemas
Pessoas.

Assim sublimo a verdade engessada
Pois na minha realidade inventada
Eu posso ser todo o mundo
E sou...



Raquel Faria.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Aniversário

23 anos
276 meses
8.216 dias
E muitas horas, milhares delas por sinal...

Renovação!
Renovam-se os dias
Renova-se o ciclo.
Trocam-se as esperanças.

Foi pela manhã na sensação de querer esconder dentro do armário
Que me abri para o novo.
De novo!
Afinal hoje é meu aniversário.




Raquel Faria.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Fotografias

Parei o momento
Registrei o fragmento
Congelei no pensamento.
Retornei ao irretornável
Revivi.

Lembrei
Relembrei
Inventei.
No registro da história voltei no tempo.

Percebi detalhes
Relembrei olhares
Sorri
Chorei
Nostalgiei.

Numa caixa,
Num papel
A vida se reafirma.

No registro da imagem a vida faz passagem
Doces fotografias...





Raquel Faria.

Voltar para casa

Caminho de Casa, por Eleny Silver

Ah ! Como é bom voltar pra casa
Onde a alma faz morada,
O conhecido é confortante
E as incertezas são certas.

Ah! Como é doce voltar pra casa
Onde o coração repousa na doce ilusão
De voltar para o familiar...


Raquel Faria.

Clarice e sua Boneca

Pobre Clarice
Não sabe amar.
Faz juras a sua boneca quando faceira está a brincar.
Mas logo depois a ignora trocando-a por outra atividade qualquer quando
a brincadeira a cansa.

Pobre Boneca
Que na sua estabilidade objetal acredita.
Acredita nas promessas.
Acredita na preferência dentre os brinquedos
Acredita quando sorrateiramente Clarice num relâmpago confessa:
“Vou ficar com você pra sempre”

Pobre boneca,
Pobre Clarice.
Dentre as indas e vindas da brincadeira eu não sei quem perde,
Se é Clarice por ir e vir
ou se é a pobre boneca,
por esperar...




Raquel Faria.
"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas"
Clarice Lispector

Quem tem...

Quem tem esperança possui o mundo nas mãos.
Possui o mundo porque nada está perdido e tudo é passível de acontecer...
Quem tem alegria tem a vida.
Pois aproveita nos pequenos momentos as melhores oportunidades...
Quem tem problemas evolui...
Evolui porque aprende nas dificuldades que tudo é passageiro...
Quem possui lembranças eterniza sentimentos.
Pois rememora nas recordações pessoas, coisas e gestos...
Quem tem dúvida possui a ambivalência fundamental.
Ambivalência do sim e do não, do ser ou não ser, ambivalência da essência...
Quem tem um amor está no olho do furação.
Pois nele tudo se encontra, alegria, tristeza, medo, coragem, ódio, amor...
Quem não tem amor está em falta...
Pois não ama , não chora, não ri , não entristece...
Enfim, perde sua humanidade.
Agora só me cabe uma reflexão:
Ainda não sei se é melhor perder a humanidade
ou estar no olho do furação...




Raquel Faria.

Ainda Trago a Marca



Ainda trago a marca no dedo...
Trago a marca dos passeios, do açaí com granola e banana,
Da pipoca com filme, do macarrão com salsicha e milho verde,
Dos passeios e telefonemas ao final do dia.

Trago a marca da ausência, da mudança
e da lembrança ainda presente.

Marcas são algo tachado, cravado.
É como se fosse um aviso constante de que algum dia algo aconteceu por ali.

Marcas trazem nostalgia, trazem alívio.
Marcas da vida, como as doces lembranças que rememoram o leve descompromisso de andar de biblicleta numa quarta feira a tarde.
Das gargalhadas com amigos
Dos apuros passados na adolescência
Dos olhares, das palavras, do toque...

Não somente acontecimentos deixam marcas
Pessoas e objetos também.
Músicas, perfumes, manias, expressões.
Traços de pessoas que entram e saem
Que nos ensinam e que também aprendem
Pessoas que compartilham e que depois ausentam-se.

É por elas, as mais variadas lembranças, que reafirmo:
ainda trago a marca no dedo...






Raquel Faria.

E se eu...

Dancer (Danseuse), por Edgar Degas.
E se eu gritasse, será que me ouviria?
E se eu demonstrasse
E se eu chorasse?

E se eu concordasse mais
Cedesse mais
Falasse mais
Me entregasse mais?

E se eu fosse menos ausente
Mais latente
E menos indiferente?

E seu tivesse mais coragem
Mais vontade?

Será que você descobriria o tanto que na minha atitude contida
eu gosto de você...





Raquel Faria.

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”

Rubem Alves

A salvação que foi trabalhar no Feriado

O que você acha de trabalhar no feriado? Trabalhar em um daqueles dias frios em que grande parte da população está descansando,viajando e principalmente, dormindo!
O que você acha?
Caro leitor, foi num desses dias atípicos de trabalho no feriado que eu encontrei a minha salvação! Porque que eu encontrei a minha salvação? Oras, nada como distrair a cabeça em convulsão com uma atividade que lhe permita fervilhar ideias que não as nossas.
Freud sabiamente já dizia que, uma das vias para se direcionar as angústias e sofrimentos seria o trabalho, as artes e a ciência. É pintando, fazendo música, escrevendo e envolvendo-se em projetos intelectuais ou não, meus caros amigos, é que o ser humano transfere suas angústias. E como não podia ser diferente, foi trabalhando no feriado que pude me desvencilhar de mim mesma.
Não sabia que papéis, burocracias e planilhas de excel podiam distrair tanto uma mente cansada e em expansão. Ah... como levantar cedo no frio de inverno e sair pela rua quase deserta rumo ao trabalho me salvou!
Agora vou aguardar pela chegada da segunda-feira, para que eu possa continuar minha terapia produtiva rumo à salvação...

Raquel Faria.

Nas Asas de Ícaro

A queda de Ícaro, por JFMachado.

Eu quero voar...
Mas não posso.
Não que eu não possa voar pelo resto dos dias,
Mas minhas asas, pobres coitadas, não suportam.

Eu quero voar pra perto do sol
Sentir no rosto o vento, a luz.
Mas preciso esperar, minhas asas ainda não estão prontas.

Enquanto isso eu pego carona nas asas de Ícaro
Voo com ele para a imensidão dos sonhos
Até atingir um ponto em que a realidade me chama.

E assim quase como que instantâneamente
Rumo em queda livre direto ao mar.
Porque assim como eu, Ícaro não podia voar muito alto
Pobre coitado, suas asas eram de cera!





Raquel Faria.

Escrever Por quê?

Há quem diga que quem canta seus males espanta. E quem escreve, seus males eternecem? Ou adormecem?

Alguém já parou pra pensar sobre o que impulsionaria o hábito de escrever? Seria por amor, pela dor, pelo rancor ou pela falta do que fazer?
O que motivou Celília Meireces a escrever, Shakespeare, Rubem Alves, Clarice Lispector, Luis Fernando Veríssimo, Pablo Neruda? E o que nos motiva?

Pois bem , a beleza da escrita é não ter motivos. Escreve-se por tudo e por nada. Escrever é conversar com a própria alma. É fazer valer no papel o que está escrito no coração!

É confessar em silêncio a palavra tolhida, é anunciar para eternidade o pensar momentâneo.

Escrevemos para sublimar a dor, para descarregar o rancor, para esbravejar o amor. Escrevemos por luto, seja pela perda do outro ou pela perda de nós mesmos. Escrever, mais do que se perder, é reencontrar.

Enfim, escrever é acalentar nosso coração quando o que mais queremos é gritar para o mundo o silêncio de nossas palavras...






Raquel Faria.